Começo o texto citando Tiefenthaler sobre a profissão de ralador de coco “Se um dia você encontrar um ralador de coco, dê um abraço nele”. A situação é bem parecida por aqui e eu nem imagino como vai ser daqui a algumas semanas quando além de tudo ainda vamos fazer queijo. Sinceramente, eu que vim aqui achando que ia trabalhar um pouquinho e ainda tirar umas férias nos Alpes, acabo me deparando com um rotina bruta de trabalho.
Um pouco antes das 6 toca o despertador para que assim eu ainda tenha um pouco de tempo pra tomar coragem e sair da cama quentinha. Depois de um café com leite eu visto a minha roupa de lida e em um pulo estou caçando as vacas no pasto e atando cada uma delas no seu devido lugar no curral. E aí não tem frescura, tem que abraçar mesmo, chegar a centímetros dos chifres e por vezes ainda sair xingando deus e o mundo depois de um belo pisão no pé. São 40 animais no nosso curral (32 vacas, 6 bezerros e 2 cabras) que buscamos todas as manhãs dentre os 180 no pasto. Depois de todas instaladas eu vou de uma em uma com um balde mergulhando e lavando o rabo das donzelas, depois de todos limpos, eu passo de novo amarrando em um elástico e torcendo para que no dia seguinte elas apareçam mais limpinhas. É só depois de tudo isso é que nós começamos a ordenha. São duas ordenhas por dia, uma de manhã e uma de tarde.
Se tudo correr bem lá pelas 9 da manhã e depois de muito agachamento (graças a deus esses dias eu descolei um banquinho daqueles de amarrar na cintura :)) vamos para o outro curral prender as novilhas, se temos sorte elas já estarão na porta esperando, se não vou de novo à caça. Às 10 e pouco acalma o suficiente para um segundo café e um briefing do que vem pela frente. O Urs (meu chefe) se acidentou no inverno andando de esqui e muito do trabalho que ele teria que fazer na primavera ficou para agora, que é o que fazemos no intervalo entre as duas ordenhas. Fazer silagem e feno nos pastos do vale, reformar o barracão, fazer cercas, preparar a cabana em Olden (nosso próximo endereço dentro de duas semanas) e ainda fazer as rondas horárias no curral se ficarmos por perto. Tudo exige muito do corpo e cansa, depois de 3 semanas esse é o primeiro final de semana que eu tenho livre e que pude viajar pouco pra tentar dar um tempo para o meu corpo se recuperar.
Tem um almoço aí no meio de isso tudo e às 16:30 já temos que preparar tudo de novo para a segunda ordenha, e aí meu amigo, é respirar fundo entrar no curral e ver o estado da zona. São 40 animais que comem mais ou menos uma tonelada de capim por dia, depois de algumas horas no curral dá-lhe bosta fresca pra limpar. Depois da higienização e de outros mil agachamentos, terminamos a ordenha e soltamos os animais, começa aí a nova limpeza para deixar tudo em ordem para o próximo dia. Entre as 19 e as 20 horas acabamos tudo, vamos jantar e é o fim da minha jornada de 14 horas de trabalho. O meu corpo ainda não se acostumou tão bem assim, todo dia acordo com dor muscular de alguma coisa diferente que fizemos. Mas bola pra frente que as coisas não vão se resolver sozinhas e sei que amanhã começa tudo de novo.
Essa experiência é bem diferente da que eu vivi com o vinho e não poderia ser diferente, quando se trabalha com animais não há final de semana, feriado, cansaço e todo dia é a mesma rotina. Apesar dos pesares to firme e forte e essa paisagem ajuda muito. A pior coisa não é nem o trabalho, mas sim a língua. Aqui, estamos na parte alemã da Suíça, mas o pessoal fala “Schweizer Deutsch”, um alemão suíço que de alemão não tem muita coisa e quando eles estão falando entre eles, ta bem difícil de entender. E é isso que me incomoda mais, afinal de contas não estou aqui somente para aprender a lida e o queijo.
As novilhas, pela foto dá pra ter uma ideia melhor do tamanho daqui
Nossa!!! Fiquei cansada e com dor muscular só de ler esse relato. Bola pra frente e não desista!!! Você está colecionando histórias incríveis para contar! Beijos!!
14 horas de trabalho físico por dia? Fiquei doída só de ler. Ainda bem que você jogava rugby. Torço que para quando chegar a etapa do queijo fique menos puxado.