O sabor da busca

Estou já há algumas boas semanas ensaiando para escrever esse texto. O problema é que ele, o vinhedo, teimava em ficar pronto, sempre faltava algum detalhe e o texto não poderia sair antes. Agora, o queijo também tem a sua parcela de culpa, mas isso é pano pra outra manga.

Em Outubro de 2016, depois de 10 meses dessa nova jornada, eu juntei tudo o que consegui aprender e toda a minha coragem e investi no sonho. O desafio foi imenso, o aprendizado, o trabalho e a incerteza que ocupava a minha mente e tirava o meu sono também. Mas no final das contas, não poderia ser diferente, trocar a caneta pelo campo não acontece do dia para a noite sem que muito suor seja derramado. Não fazia um ano que eu havia deixado o meu ambiente de trabalho usual, a minha zona de conforto no escritório e me jogado no desconhecido.

E como um bom administrador, o sonho também tem seus números. Em 2 meses foram 180 m de mourões de eucalipto, 60 tubos de ferro ¾ calandrados à mão, 350 covas cavadas em um solo riquíssimo em pedras, 600 m2 de plástico para a cobertura, 2.1 km de arame, 600 presilhas de plástico, mais de 20 mil grampos para papel, muitos parafusos e pregos para manter tudo no lugar, várias “estratégias” desenvolvidas a toque de caixa, e trabalho, muito trabalho.

Durante esses meses eu ia transformando em real aquilo que pesquisei e aprendi ao longo desses 10 meses. Mesmo sem a certeza de como calandrar, fixar o plástico na estrutura, de qual seria a melhor altura para os arames, eu fui levando a ideia à frente e aos poucos a coisa começou a tomar forma. Quem vinha me ajudar entrava na discussão e cada um do seu jeito, cada um com forças que eu não tenho acrescentavam os tijolos que me faltavam.

Agora já se passaram quase 3 meses e como um bom pai eu acompanho as videiras quase que diariamente. Plantamos 270 mudas, brotaram 270 mudas, me parece que nessa história toda de aprendizado e tentativa alguma coisa deu bastante certo. Na fase que estão, elas ainda demandam bastante trabalho, esse acompanhamento todo toma algumas horas do meu dia e só as deixo quando o sol se vai. É o verde dos brotos que me traz satisfação e por um momento não penso em tudo o que passei para chegar até ali.

Esse projeto acaba por representar bem o meu 2016, ano extremamente atípico e cheio de mudanças. Aliás acho que não seria correto dizer que foi cheio de mudanças, na verdade foi uma só, o resto é só consequência. Ano de experiências lindas e cheio de incertezas. Saí em busca de aprendizado, fui conhecer novas pessoas e novos hábitos, novas formas de trabalhar e viver, fui conhecer novas realidades para achar a minha própria.

Os posts mais antigos contam um pouco dessa história, minha viagem de carro para a Argentina e os meses que eu trabalhei no vinhedo da La Rosendo. A minha viagem para a Europa, o meu trabalho em uma fazenda e queijaria na Alemanha e os meses que eu passei na Suíça morando em uma cabana nos Alpes ordenhando e fazendo queijo de uma forma super tradicional.

O trabalho e o aprendizado foram na verdade pequenos detalhes, a riqueza mesmo vem do choque, da mudança extrema e da percepção de que seja lá qual for a realidade, tudo é sempre possível. Que não existe certo nem errado, que a noção de sucesso e desenvolvimento que aprendemos perseguir são na verdade várias.

Em 2017 só sei que nada sei, continuo buscando, buscando ativamente. Que venha o vinho, o queijo e os novos desafios.